Manto.

Nesse meu canto

onde quase não se ouve um canto

O melhor canto que se ouve

é o do ventilador.

Há também o canto do relógio, bem perto de meus ouvidos

apoiando minhas ideias.

Neste canto há luzes brancas

e leves sombras negras.

Mas  lá fora,

noutro canto, em qualquer canto

podes escolher o canto que se quer ouvir.

Há o canto das libélulas, das cigarras e das rãs.

Há o canto do dotados de asas

que soa como canção

Há também outros cantos,

forçados,

criados e e manipulados pelo homem.

(ou o homem manipulado por eles)

É o canto dos motores, das buzinas e das ruas,

o canto da poluição.

Há o canto dos passos corridos

e das respirações ofegantes de uma nação que não pára.

Mas o canto,

o melhor canto do cantos.

O verdadeiro bom canto,

fica num canto bem alto

que poucos podem alcançar.

Permite no entanto

que todos o vejam e se encantem.

 Esse canto que eu te conto,

de manhã tinha cor de gelo,

frio e uniforme.

Mas agora, quando saio do meu canto,

posso ver e ouvir tal canto.

Ele tem um tom sépia, avermelhado

tem cor de casa, cor de lar.

Deve ser por isso, minha senhora,

que quando todos saem do canto de cá

querem tanto ir pra esse canto 

E na tentativa de chegar lá

Buscam por todos os meios,

VOAR!


Nina Menezes Ricci