quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ismália

                        
                        Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...



A primeira vez que li essa história estava rodeada de livros e desenhos de criança, estava rodeada de cor. Mas ao terminar de ler tudo ficou assim com cor meio de mar ao anoitecer. Essa história é tão linda.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dear Lennon

Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os botões da camisa



Era domingo, dia de ficar arrumado. A mãe sempre pedia que ela vestisse a camisa de botões.
A camisa verde tinha botões brancos e vermelhos, suas cores favoritas.
A camisa de botões tinha suas cores favoritas.
Todas as semanas a menina anciava pelo domingo. Era sua melhor camisa. E tinha suas cores favoritas. Sua mae sempre a vestia com a camisa de botões.
Era domingo.
A menina esperara na cama porque era domingo.
Aos domingos sua mãe a acordava sorrindo e a vestia com sua camisa de botões brancos e vermelhos.
Era domingo, a menina esperara na cama.
A menina esperara sua mãe na cama a manhã todinha.
Nesse domingo a menina não vestiu suas cores favoritas. Nesse domingo seus botões ficaram na gaveta.
A menina deixou de anciar os domingos.
Depois de muito, ela percebeu que o melhor do domingo não era vestir a camisa verde de botões brancos e vermelhos.
Não era vestir suas cores favoritas.
O melhor do domingo era ser acordada pelo sorriso. O sorriso da pessoa favorita.








Da Nina.